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Dia Europeu Da Psicomotrocidade, no Dia 19 de setembro

Alguma vez reparou que a forma  como uma criança corre, desenha ou até se senta pode revelar  muito sobre a forma como pensa, sente  e aprende? É precisamente essa ligação  entre corpo, mente e emoção que está no  centro da Psicomotricidade, uma área que  hoje celebramos no Dia Europeu da Psicomotricidade. 

Num mundo atual em que cada vez mais  se fala da importância de escutarmos o  nosso corpo, cuidarmos da nossa mente  e das nossas emoções, torna-se também  cada vez mais clara a pertinência da Psicomotricidade como uma resposta terapêutica de particular relevância e de base  científica direcionada ao desenvolvimento  motor, cognitivo, emocional e relacional  das nossas crianças e jovens. 

O Psicomotricista atua através da observação e da mediação expressiva e lúdica  do movimento da criança, compreendendo que esse movimento – seja agitado, desorganizado, inibido ou impulsivo – espelha a forma como organiza o pensamento, toma decisões, memoriza, compreende  informação, constrói respostas e até mesmo identifica, compreende e gere as suas  emoções. Tudo isto impacta naturalmente  a aprendizagem, o comportamento e também a forma como a criança se relaciona  com o outro e com o mundo. 

Assim, a Psicomotricidade poderá ter  um papel preventivo, com foco na pro moção e acompanhamento das competências psicomotoras esperadas ao longo  do desenvolvimento, como por exemplo  através de programas de estimulação  de competências como o Brinca e Lê.  Poderá igualmente assumir um papel  terapêutico, quando a intervenção se  dirige a dificuldades na coordenação  motora, consciência corporal, equilíbrio,  organização no espaço e no tempo; dificuldades ao nível da atenção, memória  e resolução de problemas; bem como no  reconhecimento e gestão das emoções,  impactando a qualidade das interações  sociais. 

Cada vez mais é reconhecido o impacto  da Psicomotricidade no desenvolvimento  saudável, na aprendizagem e na regulação  do comportamento. Crianças e jovens,  seja com sintomas de cariz psicomotor,  cognitivo, relacional ou emocional, seja  com diagnósticos de atraso no desenvolvimento psicomotor, perturbação do espetro do autismo, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, perturbações de ansiedade, perturbações específicas da aprendizagem (como dislexia, disgrafia  ou discalculia), entre outros diagnósticos,  são cada vez mais encaminhados para o  mundo da Psicomotricidade – um mundo  em que, pelo brincar, pelo movimento,  pelos desafios, pelo espaço para construir  e destruir, para ressignificar, para conhecer  e redescobrir, se trabalha um corpo que se  move, pensa e sente. 

A Psicomotricidade é, assim, cada vez  mais uma aliada na promoção da harmonia do desenvolvimento infantojuvenil,  complementando o olhar de profissionais  de saúde das áreas da psicologia, terapia  da fala, terapia ocupacional, educação e  medicina nas equipas multidisciplinares  como na Clínica NIITE/CDIJA. Fá-lo a  partir da premissa de que o movimento  é o espelho da forma como pensamos,  sentimos e processamos o que vivemos,  sendo também o canal de interação com o  mundo e com aqueles que nos rodeiam. 

E, como falamos da intervenção na infância e junto dos jovens, independente mente das suas dificuldades, é essencial  reforçar a pertinência do papel do Psicomotricista na articulação com as famílias  e a comunidade escolar: na escuta ativa  dos seus desafios, na compreensão das  suas necessidades e contextos, na partilha de conhecimento e na adoção conjunta de  estratégias de intervenção, respeitando  sempre a individualidade de cada criança  e jovem. 

Enquanto Psicomotricista sei que, ao  longo da leitura deste artigo poderão, por  breves momentos, ora desviado a vossa  atenção, necessitando de dizer ao vosso  cérebro ‘retoma a leitura’ e exigindo um  ajuste na vossa postura, ora poderão ter  lido todas estas palavras e permanecido  num corpo tranquilo, com total atenção e  interesse ora num corpo inquieto, curioso  e intrigado sobre a Psicomotricidade, com  um pensamento acelerado. Qualquer que  tenha sido a vossa experiência, todos estes cenários mostram esta ligação entre  corpo, movimento, pensamento e emoção  – a visão da Psicomotricidade que hoje é  celebrada e cada vez mais valorizada no  desenvolvimento infantojuvenil. 

Neste Dia Europeu da Psicomotricidade, deixo um convite: pais, professores e  profissionais de saúde, observem o movi mento das crianças com um novo olhar.  Muitas vezes, é no corpo que encontramos pistas valiosas para promover aprendizagens, relações e saúde mental. 


Beatriz Pereira, Psicomotricista das Clínicas NIITE|CDIJA

Diário Insular, 19 de setembro de 2025